Banalização do porte de Arma no Brasil

         Em 2003 entrou em vigor o Estatuto do Desarmamento, este seria o responsável por limitar o porte e a posse de armas entre os brasileiros, através de condições bem rígidas para tal medida. No ano de 2015 surgiu um novo projeto de lei que visa revogar a rigorosidade e a dificuldade para o armamento do cidadão, para que este possa se armar com o intuito de legitima defesa. Desde o surgimento do projeto em questão a discussão sobre o assunto tem tomado proporções extraordinárias, não só no Brasil, esse debate tem dominado vários países como os Estados Unidos por exemplo, discutindo sobre a sua Segunda Emenda. Agora que já sabemos o assunto tratado nesse texto, vamos debater sobre o tema, devemos esquecer o tramite político do projeto em questão e focar nas questões sociais, que é o que realmente importa.

     Vivemos em uma sociedade onde a violência é tão banalizada que o estado em si tem tido dificuldades de proteger o cidadão, isso gera medo e uma sensação de insegurança, fazendo com que a população busque se armar. Ao estudar o sociólogo francês Émile Durkheim, passamos a compreender melhor o fato social, este seria a influência que a sociedade impõe sobre o indivíduo, se usamos isso para fazer uma análise do povo brasileiro, vamos entender que não temos ainda a “maturidade” para uma banalização das armas de fogo, visto que a pressão que a violência imprime sobre nós através do fato social é tamanha, que queremos responder a ela com mais violência e não com a razão, boa parte da população atual prefere torturar e matar um assaltante do que simplesmente prendê-lo.

     Um dos maiores argumentos usados pelos defensores de tal absurdo é que iria dar para o homem de bem uma chance de se defender, o ladrão iria pensar duas vezes antes de praticar um crime, iriamos enfim ter a proteção que o estado deveria nos dar, mas falando sério, você realmente acredita nisso tudo? As pessoas não estão enxergando os efeitos colaterais desta medida, a nossa população é violenta, não estou falando dos criminosos, mas sim dos civis, uma briga na rua pode ter origem por uma simples “buzinada” no transito, ou por algum mal-entendido em fila de supermercado, ou simplesmente por que você olhou “torto” para alguém em uma festa, imagine como seria essas brigas “inofensivas” (já que em sua maioria não resulta em morte) se as partes envolvidas estivessem armadas. Armar a população não iria por fim na guerra existente entre bandido e civil, mas provavelmente iria dar início a uma nova e bem mais devastadora guerra, civil contra civil.

     Sinceramente, acho que os defensores deste projeto não sabem o que querem, pois se quer tanto possuir uma arma ao ponto de simplesmente ignorar os efeitos colaterais catastróficos que isso iria gerar, é porque não querem só se proteger, querem na verdade é ter poder, querem sentir a sensação de impunidade que uma arma trás, a ideia de se intocável, é obvio que este meu pensamento não se aplica a todos os defensores, mas digo que certamente a grande maioria. Se estudarmos a fundo a ideia de política para o filosofo francês Jean-Jacques Rousseau iriamos entender algo que ele cita de forma indireta, se deixarmos todo o poder nas mãos do povo o resultado sério o completo caos. Queremos mesmo arriscar algo assim?

     Lembro de uma vez estar debatendo sobre este tema com um colega, chegamos em um momento do debate onde discutimos a capacidade que uma pessoa teria de portar uma arma, então este colega usou o seguinte argumento “se um policial pode portar uma arma, porque o cidadão não poderia, afinal, a diferença entre ambos é apenas um curso preparatório”, até hoje fico indignado e revoltado com tal argumento, deixo logo um aviso para quem compartilha de tal pensamento, quando ficar doente não procure um médico, faça seu próprio diagnostico, quando quiser reformar sua casa, não contrate nem um arquiteto e nem um engenheiro, faça seu próprio projeto, quando tiver alguma tramitação no meio jurídico, não procure um advogado, afinal de contas, a única diferença de você para qualquer um desses profissionais é um curso preparatório, não desmereça uma profissão ou outra apenas pela dificuldade de tal curso. Uma coisa é certa a população brasileira atual não tem cabeça, preparo ou até mesmo maturidade para portar ou possuir uma arma de fogo.

     Como já dito anteriormente, a ideia do projeto é que o cidadão tenha direito defesa, mas vamos analisar alguns detalhes técnicos, hoje em dia o cidadão pode ter posse de até 6 armas de fogo e poderia comprar até 50 munições para cada uma, com o novo PL o número de armas saltaria para 9 e o número de munições anuais seria de 600 por arma, então um cidadão com 9 armas iria usar 5,4 mil balas apenas para legitima defesa? Chega até a ser engraçado, sei que vivemos tempos de violência, mas aí já é um pouco exagerado, não é?! HAHAHAHA.

     Enfim, reflitam se tal medida realmente seria benéfico para o país, realmente iria diminuir a criminalidade? Ou apenas aumentaria a violência? Analisando a maturidade e pensamento “justiceiro” de nossa sociedade já temos uma triste resposta.


     Antes de qualquer coisa analise tudo livre de influências e pense por fora do senso comum!

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